quarta-feira, 26 de maio de 2010

GREVE: GOVERNO RETOMA POSTURA AUTORITÁRIA

Estava demorando para o governo mostrar suas garras autoritárias, como fez na última greve dos professores, ocorrida no ano passado. Demorou, mas mostrou.

Começou com uma nota, publicada no portal do governo, na última sexta-feira, 21, pela qual este "conclama" os professores a voltarem ao trabalho, depois de acusar o Sintepp pela "decisão unilateral" de "não cumprir o acordo". Mas que acordo?

O "acordo" do governo é claro. Sem reajuste e sem PCCR unificado, e outras reivindicações que a categoria não pode abrir mão, sob pena de manter essa situação degradante para nossa categoria, agravada nesses últimos três, com o governo dos "companheiros".

Depois da nota, com a qual a Seduc inicia sutilmente o processo de terrorismo contra a categoria, a Assessoria da Seduc produziu uma "notícia" interessante, que bem poderia render-lhe o prêmio Esso: "Pais de alunos voltam ao MP para exigir ação na Justiça pelo retorno às aulas".

Na notícia, atribuída à Redação da Secretaria de Comunicação do Governo, dois furos: "Nesta terça-feira (25), o Conselho de Pais da Escola Justo Chermont retorna ao Ministério Público para verificar o andamento da ação cível solicitada no final da semana passada, pedindo o imediato retorno às aulas".

Engraçado que o Governo só se refere ao MP para, com a ajuda de uma associação de pais que provavelmente desconhecem o real teor de nossa luta, tentar encurralar os professores. Duvido que a "Redação" se interesse pelos vários procedimentos instalados contra as falcatruas deste governo, que não são poucas.

Mas melhor do que o primeiro é o segundo "furo": "Ainda na manhã desta segunda-feira, um grupo de estudantes esteve no gabinete do secretário de Educação, Luís Cavalcante, solicitando a criação de grêmios estudantis. Na oportunidade, Mariana Freitas, vice-diretora da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e vice-presidente da União Metropolitana de Estudantes Secundaristas (Umes), reforçou a necessidade de retorno às aulas. Ela disse que os estudantes são contra a greve "porque ela está sendo abusiva".

Quem os companheiros e seus vassalos pensam que enganam com essa farsa?
Só mesmo os incautos, porque quem conhece as figurinhas que comandam e o modus operandi desse governo sabe muito bem a quem são ligados esses estudantes, que atuam sob a logomarca de entidades chapa branca, que há muito abandonaram as verdadeiras lutas dos estudantes para se render aos frondosos mimos dos governos petistas.

Entidades como UNE, UBES e UMES (não esqueçamos da CUT, é claro) há muito deixaram de ser porta-vozes dos verdadeiros interessas da classe estudantil, passando a funcionar como meras correias de transmissão das políticas do governo.

Seus dirigentes - inclusive os secundaristas que reuniram com o secretário de Educação - são todos ligados a um partido que hoje é um dos fiéis escudeiros do petismo tanto em nível nacional como local.

Não é à toa que a UNE vem sendo abastecida com verbas milionárias do governo federal. E não é à toa que um seu ex-presidente é o ministro dos Esportes.

Armações rasteiras como essa, de tentar jogar estudantes e pais contra os professores, só revelam a feição autoritária e ignóbil desse governo.

Temos que tomar muito cuidado, pois a administração dos "companheiros" começa assim, espalhando versões tendenciosas e disseminando a discórdia entre a comunidade escolar.
Depois, começa a pegar pesado: manda a PM descer o cacete na classe, entra na justiça para multar o sindicato, corta o ponto dos grevistas e coisas do gênero, típica dos governos da ultra-direita, que os "companheiros", quando estavam do lado dos trabalhadores costumavam combater.

Hoje os combatidos somos nós, trabalhadores de verdade.

John Charles Torres – professor dos colégios estaduais Augusto Meira e Paes de Carvalho.
johnctorres@yahoo.com.br
Publicado originalmente em http://bloguedojohn.blogspot.com/
 

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